Eles não sabem ler. E agora?
Eduardo Filho
Matéria publicada no Jornal da Tarde,
22 de maio de 2012.
Alguns especialistas chamam de “Era do Conhecimento” ou
“Sociedade da informação” o mundo atual em que vivemos. Nesta sociedade
contemporânea a habilidade mais básica que todo cidadão deve possuir é a
proficiência em leitura. Lamentavelmente, esta habilidade básica não foi
comunicada ao cidadão brasileiro médio, visto que apenas 1% dos estudantes brasileiros
possuem habilidades avançadas em leitura. Em países realmente desenvolvidos,
este percentual é de 15%. Outra triste constatação é o fato de 55% dos jovens
brasileiros estão no nível mais baixo de proficiência em leitura. Entre os
países participantes de uma avaliação internacional, o Brasil foi o país com
maior percentual de jovens no nível mais baixo de habilidades em leitura. Vale
ressaltar que estes dados referem-se a uma avaliação que contou apenas com
jovens estudantes, na faixa de 15 anos, sem grande defasagem de ensino. Se
incluirmos na análise os mais de 80 milhões de adultos que não possuem o Ensino
Médio, constatamos que o Brasil possui uma nação de semiletrados, o que coloca
o nosso país em grande desvantagem competitiva internacional. Muitas empresas
tentam contribuir com a sociedade, mas estão tratando o problema com o remédio
errado. Existem inúmeros núcleos de capacitação profissional financiados pela
iniciativa privada e pelo Governo, contudo, estão tentado profissionalizar
jovens que ainda não sabem ler de forma articulada. O problema da desigualdade
é mais básico e não será resolvido com cursos profissionalizantes para
analfabetos funcionais.
A profissionalização necessária para
a maioria dos cargos disponíveis é a capacidade plena de expressão oral e
escrita e de realização de cálculos básicos. Estas competências podem ser
obtidas concluindo com êxito o Ensino Médio. O cumprimento desta básica etapa
garante empregabilidade e livra o jovem do subemprego e demais constrangimentos
sociais. No Instituto Direcionar, bons resultados estão sendo percebidos como
resultado de aulas de português e oficinas de leitura. Nestas oficinas os
jovens tem a oportunidade de exercitar a oralidade e melhorar sua fluência.
Doutores em matemática afirmam que o português é a base para um bom desempenho
nas disciplinas exatas, pois capacita no entendimento do enunciado dos
problemas.
O domínio pleno da língua portuguesa
obedecendo aos critérios da norma culta é o que alguns especialistas em
educação chamam de “linguagem da oportunidade”. Esta definição é bastante
objetiva, prática e, além disso, encerra a improdutiva discussão sociológica
sobre a liberdade do jovem expressar-se com gírias ou utilizando um dialeto de
suas comunidades. Independente de sua origem ou forma de falar entre amigos, o
estudante deve ser preparado na escola para falar a linguagem do trabalho, dos
estudos e dos negócios. É a linguagem que o jovem precisará utilizar para ser
aprovado em uma entrevista de emprego e para ser bem-sucedido em uma redação no
vestibular. Nossa sociedade possui um longo caminho a percorrer para realizar
uma grande reforma educacional em nosso país, mas podemos avançar bem rápido se
nos atentarmos para a real necessidade que temos. Nossos jovens não precisam de
cursos profissionalizantes, eles precisam ser alfabetizados.
O autor, Eduardo Filho, é
especialista em educação e presidente do Instituto Direciona